Título: História dos sentimentos
 
Os sentimentos humanos, certo dia, se reuniram para brincar. Depois que o tédio bocejou três vezes porque a indecisão não chegava à conclusão nenhuma, e a desconfiança estava tomando conta, a loucura propôs que brincassem de esconde-esconde. A curiosidade quis saber todos os detalhes do jogo, e a intriga começou a cochichar com os outros que, certamente alguém ali iria trapacear.

O entusiasmo saltou de contentamento e convenceu a Dúvida e a Apatia, ainda sentadas num canto, a entrarem no jogo. A verdade achou que isso de esconder não estava com nada, a arrogância fez cara de desdém, pois a idéia não tinha sido dela, e o medo preferiu não se arriscar: “Ah, gente, vamos deixar tudo como está”, e como sempre perdeu a oportunidade de ser feliz.

A primeira a se esconder foi a preguiça, deixando-se cair no chão atrás de uma pedra, ali mesmo onde estava. O otimismo escondeu-se no arco-íris, e a inveja se ocultou com a hipocrisia que, sorrindo fingidamente atrás de uma árvore, estava odiando tudo aquilo.

A generosidade quase não conseguia se esconder, porque era grande e ainda queria abrigar meio mundo, a culpa ficou paralisada, pois já estava mais do que escondida em si mesma, a sensualidade se estendeu ao sol, num lugar bonito e secreto, para saborear o que a vida lhe oferecia, porque não era nem boba nem fingida; o egoísmo achou um lugar perfeito onde não cabia ninguém mais.

A mentira disse para a inocência que ia se esconder no fundo do oceano, onde a inocente acabou afogada, a paixão meteu-se na cratera de um vulcão ativo, e o esquecimento já nem sabia o que estava fazendo ali.

Depois de contar até 99, a loucura começou a procurar. Achou um, achou outro, mas ao remexer num arbusto espesso, ouviu um gemido: era o amor, com os olhos furados pelos espinhos.

A loucura o tomou pelo braço e seguiu com ele, espalhando beleza pelo mundo. Desde então, o amor é cego e a loucura o acompanha.

Juntos, fazem a vida valer a pena mas isso não é coisa para os medrosos nem para os apáticos, que perdem a felicidade no matagal dos preconceitos, onde rosnam os deuses melancólicos da acomodação.

Colaboração de Liane Castrillon, Conselheira da Febrae
Colaboração de Lucila Costa, coordenadora regional de AE em Marília