Título: O Trabalho
 
Por Onofre Fidelis


Recentemente entrevistei um candidato a emprego, era um movem saído da faculdade, sem nenhuma experiência profissional. Seus conhecimentos limitavam-se apenas à formação teórica recebida em anos de estudo, mais nada. Apesar da fragilidade de seu currículo, o rapaz de vinte e cinco anos possuía talento. Se treinado, poderia tornar-se um bom vendedor, quiçá no futuro fizesse carreira como supervisor ou até gerente comercial; o mercado anda ávido por profissionais dessa área e os remunera condignamente. Para meu espanto, o jovem, oriundo da classe média baixa, declinou da oportunidade, alegando preferir algo de acordo com sua formação de administrador. De nada adiantaram meus argumentos de que vender á administrar negócios, das possibilidades de crescimento, carreira, dinheiro, sucesso. O jovem, arrogantemente, disse: “formei-me para fazer o que gosto, estou há dois anos procurando um emprego que, verdadeiramente, atenda minhas potencialidades.”

Curioso indaguei: “em sua opinião, quais são as suas potencialidades”?
Sem enrubescer, o rapaz respondeu: “gerência administrativa, comercial, diretoria ou coisa semelhante”. Para quem nunca havia trabalhado um dia sequer em toda sua vida, aquele jovem possuía, de imediato, expectativas somente alcançadas por profissionais qualificados, em anos de trabalho árduo, persistente, profícuo.

O diploma constitui uma certificação acadêmica importante, mas não credencia ninguém a assumir posições que exijam experiência vivencial do ofício. Isso se consegue através dos anos, com trabalho, empenho, esforço dedicado em ser o melhor, competindo, vencendo as dificuldades encontradas no percurso das estradas da vida. Grande parte dos jovens querem alcançar sucesso, fazer fortunas, se possível o mais rápido, mas poucos estão verdadeiramente preparados para lutar, enfrentar desafios, cair, levantar e perseverar.

Atualmente, a maioria dos candidatos a emprego possui rico embasamento teórico, mas débil conhecimento prático da vida. Foram bem preparados em bancos escolares, leram, dissertaram, defenderam teses, mas não vivenciaram o que foi ensinado. Sobra teoria, mas falta prática. Possivelmente, seja este um dos fatores determinantes do elevado índice de desempregados recém-formados em cursos superiores. Paradoxalmente, o inverso vem ocorrendo com os técnicos: as empresas, ávidas por mão de obra qualificada e experiente, estão contratando técnicos agrícolas, em engenharia de alimentos, administração de fazendas e outros, antes mesmo de se graduarem. Argumentam os empregadores que o técnico, além de “vir pronto”, custa mais barato.

Neste aspecto, é preciso repensar os dispendiosos, às vezes frustrantes cursos superiores.

Pais estão gastando verdadeiras fortunas na formação acadêmica dos filhos que, quando diplomados, não são competitivos no mercado de trabalho por falta de conhecimentos práticos. O ideal seria consorciar estudo com trabalho, teoria com prática, porém o que se presencia no mundo universitário é a tendência de associar estudo com festas, bebidas, diversão, futilidade, não com o trabalho, a experiência, o sucesso.

O trabalho é o principal meio pelo qual as pessoas conseguem o que desejam e evitam aquilo que não desejam.

Cada vez que vejo luminosos talentos em potencial destruírem a si próprios por causa da presunção, da preguiça, da falta de atenção ao detalhe ou do desperdício de determinado dom, fico pensando se estamos verdadeiramente criando e formando vencedores ou acomodados.

Hoje, muitos dos nossos jovens mais promissores, estão discutindo as assertivas da ética do trabalho. É a sério quando dizem: “recuso-me a executar uma tarefa rotineira como meu pai fez. Quero da vida algo mais valioso do que isso”. Respeito e admiro a pessoa que tem a coragem de continuar procurando, até que encontre um trabalho que goste, que tenha significado para ela; mas, enquanto se procura, dever-se-ia também ir aprendendo. A única maneira de atingir os objetivos que almejam nossos jovens é através da necessária preparação. Amador Aguiar, o legendário fundador do Bradesco, foi um vencedor, um trabalhador pertinaz, nem sempre fez na vida o que gostou, mas sempre gostou de tudo que fez. É dele a máxima: “somente através de trabalho se constroem riquezas...”.

Onofre Fidelis é Coordenador Regional do Triângulo Mineiro.
Colaboração de Lucila Costa, Coordenadora Regional de Amor-Exigente em Marília.