Título: ARTIGO - O sintoma de disfagia orofarígea nas cardiopatias
 
Luciana Claudia Leite Flosi dos Santos

O mau funcionamento do coração é denominado cardiopatias e o mau funcionamento da deglutição (ato de transportar o alimento da boca até o esôfago) Disfagia Orofaríngea.

Quando nosso coração está saudável, funções como: andar, falar, comer e respirar, são executadas sem nos darmos conta. Ele, através de batimentos rítmicos garante que o sangue seja oxigenado nos pulmões e, a partir daí, o impulsiona para todo o corpo. E dessa forma transporta tudo o que necessitamos para nos sentirmos bem e vivermos plenamente.

O ato de comer inicia-se com o desejo pelo alimento, a busca por ele e em seguida o seu preparo e sua introdução na boca. A função de transportar a comida até o esôfago de maneira eficiente e segura decorre de um mecanismo dinâmico e integrado que é comandado pelo cérebro. O processo de deglutição e respiração funciona de modo coordenado, pois parte do trajeto do alimento é também partilhado pelo ar que respiramos. Refiro-me ao trajeto orofaríngeo e faríngeo. Nessa região, durante o ato de deglutir, especificamente quando o alimento é ejetado para a faringe e encaminhado para o esfíncter superior do esôfago, há uma parada na respiração (apnéia respiratória), após esse trânsito se concluir (tem duração de segundos) a respiração segue naturalmente.

No entanto, quando um mau funcionamento do coração interfere na função pulmonar, ou seja, ocasiona um prejuízo no ato de realizar as trocas gasosas, inicia-se um conjunto de sintomas que faz com que funções como: andar, falar, comer e respirar se tornem extremamente cansativas. Pequenos esforços causam cansaços extremos, e para dar conta das demandas diárias, mudanças gradativas na rotina são freqüentes. Às vezes essas mudanças se dão ao longo de um tempo, que pode durar vários meses, quando estão relacionadas a problemas cardíacos crônicos.

Tais mudanças, apesar de gradativas interferem nas relações sociais, e também em diversas funções do corpo. No que se refere a sua interferência na deglutição, em decorrência do cansaço, é comum ocorrer modificações na dieta alimentar. Há uma tendência em buscar alimentos mais fáceis de deglutir e dessa forma exclui-se os alimentos que necessitam de um tempo maior de mastigação, por exemplo: as carnes e outros alimentos sólidos. Seguindo esse caminho, ou seja, o de economizar energia, o indivíduo perde peso, podendo até desenvolver uma desnutrição. A esse quadro de alimentação em quantidade e consistências restritas denominamos de Deglutição Ineficiente.

A Deglutição Ineficiente pode ocasionar então a desnutrição e também a desidratação. A desnutrição grave ocasiona prejuízos na eficiência do mecanismo de transporte do alimento, ou seja, do bolo alimentar, da boca até o esôfago, fator de risco para a penetração do alimento em cavidade laríngea e ou traqueal - bronco aspiração. A presença do alimento em vias aérea inferiores (traqueia e pulmões), ocasiona insuficiência respiratória e broncopneumonias aspirativas na maioria das vezes. Quando o padrão da deglutição é de risco para a saúde do pulmão denomina-se de deglutição insegura. A desidratação, por sua vez, em decorrência da diminuição da água, ocasiona o aumento de concentração de alguns elementos no sangue, por exemplo, da uréia. Esse desequilíbrio rebaixa o nível de consciência e a pessoa fica impossibilitada de ingerir alimentos pela boca.

As cardiopatias, podem também ocasionar Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi). Os AVCis são causas muito comuns de quadros de Disfagia Orofaríngea Neurogênica, elas podem ser ineficientes e inseguras, ou somente ineficientes.
A ocorrência de deglutição ineficiente e insegura que acomete o adulto cardiopata pode ocorrer também nos bebês com tal patologia. O bebê por se alimentar de leite, tem na sucção a função de retirar o alimento do seio materno, ou da mamadeira, essa ação ocorre de maneira coordenada com a respiração e a deglutição. A cardiopatia que estiver relacionada com prejuízos da função pulmonar pode tornar o ato de sucção exaustiva para o bebê. Sem conseguir coordenar a sucção com a respiração e a deglutição esse bebê não conseguirá alimentar-se, ou até mesmo broncoaspirar o leite (penetração do leite no pulmão).

A intervenção fonoaudiológica, nos casos em que há risco de comprometimento da função da deglutição, pode auxiliar a equipe médica a dar atendimento a todas as demandas dos pacientes que apresentam queixas de cardiopatias.

Mestre Fonoaudióloga: Luciana Claudia Leite Flosi dos Santos, Fonoaudióloga da Santa Casa de Misericórdia de Marília