Título: ARTIGO - Mundo Externo e Mundo Interno
 
Cassia Assef

Dia desses fui a um velório. Sentada lá enquanto o velório “pairava”, conversava com um amigo que me contava muitas coisas que lhe passavam na cabeça. Para mim ficava muito evidente a diferença entre o que se passa dentro e fora de nós, ao mesmo tempo: no mundo externo, um morto; no mundo interno, ou seja, tanto na minha mente quanto na do meu amigo, quanta história viva se passando!

Foi então que, fiquei pensando em como muitas vezes esses dois mundos se contrastam: o mundo que está a nossa volta (externo) e aquele que temos dentro de nossa mente (mundo interno). E em outras ocasiões eles ficam parecidos e até podem coincidir.

Lembrei das histórias infantis cheias de fadas, princesas, bruxas, monstros, dragões, etc. Nas nossas histórias, do mundo externo também aparecem bruxas (uma sogra, uma vizinha ranzinza), fadas (boa amiga, madrinha), príncipes (amores) que podem virar sapos, um malfeitor (chefe carrasco), e outras tantas pessoas/personagens com as quais convivemos no nosso dia a dia.

Um poeta bem disse a sua filha, numa música, que ela viveria em um mundo cheio de vilões, dragões e poucas fadas. Talvez ele estivesse alertando sua filha, de uma forma figurada, quanto a esse mundo que nos rodeia, mas penso que seu alerta também é válido para comunicar que esses personagens existem dentro de todos nós.

Enquanto meu amigo e eu conversávamos, falamos da vida com todo seu movimento. Fora de nossa conversa, no velório, a morte se presentificava.

O mundo que nos rodeia tem vida e morte. No mundo interno também. No mundo interno podemos negociar. No mundo externo, às vezes, isso não é possível.

Explico: no mundo externo, aquela pessoa que morreu, não poderá mais viver. No mundo interno essa mesma pessoa poderá viver para sempre.

Às vezes matamos dentro de nós pessoas, vontades, criatividade, encontros, etc. Nesse mundo interno, o que matamos pode voltar à vida, pode ressurgir. No mundo externo não.

Cuidemos, pois, da nossa mente, do nosso mundo interno, para que ele possa conter “habitantes mais amigáveis, encontros mais interessantes, bruxas menos assustadoras, menos monstros, menos pavores. Mais contos, menos estórias de terror, e mais amor.

Cassia Assef, psicóloga hospitalar da Santa Casa de Marília